Sonho e sonhador são indissociáveis. A vontade de se confirmar presidente da República faz parte de Dilma Roussef tanto quanto seus problemas, virtudes e doenças. É imensurável ou impossível de definir a voluntariedade de uma possível e despudorosa inclusão de seu câncer como fator decisivo na disputa eleitoral. Fato é que a ministra dificilmente desistirá de concorrer ao cargo mais alto do Executivo.
Simultaneamente, a doença lhe vitimiza (um político desce de seu pedestal para sofrer) e lhe glorifica caso sua força de vontade (e a quimioterapia) se sobreponham ao câncer. Seu poder seria tão fantástico quanto o de um homem comum – e incrível somente por ser como outro qualquer – que superou e ajudou a derrubar, de martelo na mão, um regime. Ambos apresentam um estereótipo – nem sempre honrado na prática.
É inútil o esforço de tentar fazer com que o povo VEJA (com o perdão do trocadilho) revelações comprovando imundas relações entre tumor e candidatura. Ao Seu João e a Dona Maria, imensa maioria populacional e votante, a análise se limita ao ser humano. Uma mulher, recuperada, heroica e solidária (o PAC que o diga) é tão magnânima quanto um torneiro mecânico comunista, barbudo e amputado. São pessoas a quem se pode oferecer o ombro, o abraço e o voto.
Queira se acreditar que o anúncio do câncer da ministra seja uma maneira de se dar merecida satisfação à população. Mesmo que não seja, pouco importa: a doente valeria tanto quanto valeu o socialista.