sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Crônica de um almoço

Já havia almoçado sanduíche um dia antes. Hipocondríaco por herança genética, quis compensar no dia seguinte e me alimentar obedecendo as flutuantes regras do saudável. Talvez, assim, pudesse amenizar a gripe incurável.

Por uma questão de paladar preteri o restaurante "Gourmet", onde o bife lembra imagens do Google Map e, por uma questão de economia, escolhi o "Na Medida". Pedi o mais barato: quiche com salada. Feito o sacrifício, não pediria um refrigerante: mate, por favor. Limão ou Natural? Natural, afinal teria menos corante e seria mais... natural. Natural só diet, amigo. Tudo bem... Diet.

Levei minha bandeja e comecei a comer de pé, encostado numa lixeira redonda. Como a mochila pesou, resolvi sentar. Sozinho. Durante os primeiros minutos devorei considerável parte do conteúdo do prato. Já ligeiramente satisfeito e acusando os primeiros sinais de cansaço, graças a aceleração metabólica, diminuí o ritmo. Passei a comer observando a movimentação de pessoas, sem pressa, o que facilitava o tráfego no percurso digestivo.

Quatro meninas chegam juntas para comer num dos restaurantes ao redor. Têm a mesma dúvida que sempre me assola: o que pedir? Eu poderia morrer de fome - por indecisão - se colocassem três pratos variados à minha frente.

Conversam ainda incertas. Se aproximam de mim, perto da bancada do restaurante, e me olham. Fosse apenas uma, seria atípico. Quatro, era inédito. Mas o que me chamava a atenção, principalmente, eram os olhares despreocupados mesmo que eu os respondesse de forma interrogativa. De mulheres desconhecidas só conhecia olhares de volúpia ou, sobretudo, rejeição, mas os delas quatro não correspondiam a nenhuma destas categorias.

Me certifiquei de que tinha todas as peças de roupa e não babava. Abaixei a cabeça para me observar e tentar desvendar o que viam. Quiche. Salada. Mate Diet. Eu, sozinho, no "Na Medida" e - crucial, - de camisa rosa, quase um pijama, gola em "V".

Elas estavam apenas decidindo seus pratos. E pediriam o mesmo da bichinha 'pink'.

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