sexta-feira, 26 de junho de 2009

Os cinco minutos finais de um jogo do Brasil

No metro quadrado dos olhos mais azuis do Rio de Janeiro, na PUC, algumas barracas, do lado de fora da faculdade, vendem salgados para os alunos menos milionários. Em muitas delas, televisões fazem parte da decoração, desafiando a Light e o Feng-Shui.

São mais de 17 horas. Brasil e África do Sul se enfrentam pela Copa das Confederações. Quase 40 minutos do segundo tempo. Dezenas de jovens se acomodam em pé de frente para os televisores, se esquivando das cabeças às suas frentes que lhe tampam a visão perfeita (dentro do possível, tratando-se de uma TV de 14 polegadas e com ruídos de imagem).

Ao entorno dos quiosques passam transeuntes - principalmente funcionários e estudantes. Este é o principal caminho de entrada e saída dos pontíficies universitários e trabalhadores.

Uma dupla de amigos cumpre o tradicional trajeto, seguindo caminho para a aula. Um propõe:

- Vamos ver o finalzinho do jogo.

O outro, responsável, refuta a possibilidade.

- Não dá. O jogo vai acabar indo para a prorrogação - afirma temendo perder mais tempo.

A resposta despreocupada mostra um padrão comum.

- Que isso, cara. Pelo menos a gente vê os pênaltis.

Não veêm. Prosseguem.

Compenetrados, os vendedores de salgados se limitam ao papel de telespectadores dentro de seus próprios comércios. Naquele instante, poucos e pouco vendem. Um deles só se movimenta para tirar a abelha de sua frente e somente quando o risco lhe parece iminente.

O vai e vem continua.

Falta próxima da grande área sul-africana. O público se agita. Não mais que Galvão Bueno. Daniel Alves se prepara a cobrança de falta à la Cristiano Ronaldo. Caminha de costas, ensaia um moonwalk, abre as pernas, as flexiona, alivia a assadura. Pára. Termina a preparação ridícula, risível e passível de críticas - que não são feitas pelo perigo da falta: seria vergonhoso se depois do deboche viesse o gol.

Um rapaz, o mais próximo da TV, prevê:

- Vai entrar no canto esquerdo rasteiro.

Aponta.

Daniel Alves é mais preciso que a intuição e acerta próximo do ângulo. Todos comemoram, à sua maneira. Muitos pulam.

O lateral da seleção vibra, pensa em tirar a camisa, mas se contenta em levantá-la, mostrando a tatuagem no peito raspado, que já parece uma barba mal feita. Precisa de novo da navalha. Não parece sentir frio, apesar do inexplicável agasalho que leva no pescoço.

O da previsão se vangloria e redime.

- Falei que ele ia bater daquele lado...

Alguns minutos passam. Pressão da África. A bola quica próxima da área brasileira. Galvão Bueno insiste: "tira daí, tira, tira!". Riem.

O futebol é universal. Une desconhecidos, faz amizades de infância em segundos. Transforma um país carente numa nação em unidade...

Passam duas meninas.

- Foi gol.
- Foi? De quem?
- Não sei.
- Gritaram. Deve ter sido do...do...
- É, do...

Paradas e curiosas não reconhecem a camisa amarela. Calam-se e continuam a andar.

Um comentário:

João Miller disse...

hauhauhauha. "do...do..."...essa foi foda. acho que só estando lá pra acreditar